comendo na frente do espelho

uma pesquisa antropológica

Esses dias minha mãe me ligou e, como toda mãe interessada na filha que mora longe, ela perguntou se eu estava bem e o que eu estava fazendo no momento. Eu disse que eu estava jantando na frente do espelho. Ela riu alto e perguntou de novo para ter certeza.

Quando confirmei, ela soltou o famoso "ai, só tu mesmo, né?".

Eu não costumo fazer refeições na frente do espelho, mas naquele dia eu queria ver como era a Gabriela comendo. Assim como você, estou acostumada a ver outras pessoas se alimentando: o jeito que elas mastigam, o quanto elas mastigam, se fazem barulho, se comem rápido demais ou se comem de boca aberta, por exemplo. Só que me dei conta que eu não sabia como era o meu comportamento durante uma refeição.

Como boa geminiana, eu tenho várias curiosidades esquisitas. Então peguei meu pratinho de comida e sentei na frente do espelho do quarto para iniciar a minha pesquisa de campo.

Vou fazer um comentário e, tudo bem se você fizer uma piadinha mental erótica, é que fiquei surpresa com os movimentos da minha boca. Pela primeira vez, observei o vaivém da minha mandíbula, às vezes um pouco afobada e às vezes mais delicada. "Olha, eu tenho uma mandíbula!", foi a minha reação. Fiquei feliz como quando a gente é criança e descobre as partes do nosso corpo.

Porém, acredito que o fator de eu estar sendo observada — mesmo que por mim mesma — tenha estragado a espontaneidade do momento. Talvez eu não tenha agido normalmente e eu nunca saiba como eu realmente me comporto durante as refeições. De repente eu sou o completo oposto do que eu vi, que deve comer de boca aberta enquanto mastiga em voz alta.

Devaneios à parte, a minha mãe achou engraçadíssima a minha experiência e disse que vai fazer o mesmo. Eu recomendo porque acho que pode ser revelador. E se você não descobrir nada empolgante, no mínimo, terá jantado em boa companhia.


se a sua mãe também acha você esquisita(o), então bata palmas. 1 palma para esquisito, 50 palmas para muito esquisito mesmo.